Entre mortos, porcos e demônios

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Eles atravessaram o mar e foram para a região dos gerasenos. Quando Jesus desembarcou, um homem com um espírito imundo veio dos sepulcros ao seu encontro. Esse homem vivia nos sepulcros, e ninguém conseguia prendê-lo, nem mesmo com correntes; pois muitas vezes lhe haviam sido acorrentados pés e mãos, mas ele arrebentara as correntes e quebrara os ferros de seus pés. Ninguém era suficientemente forte para dominá-lo. Noite e dia ele andava gritando e cortando-se com pedras entre os sepulcros e nas colinas. Quando ele viu Jesus de longe, correu e prostrou-se diante dele, e gritou em alta voz: “Que queres comigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Rogo-te por Deus que não me atormentes!” Pois Jesus lhe tinha dito: “Saia deste homem, espírito imundo!” “Então Jesus lhe perguntou: “Qual é o seu nome? ” “Meu nome é Legião”, respondeu ele, “porque somos muitos”.E implorava a Jesus, com insistência, que não os mandasse sair daquela região. Uma grande manada de porcos estava pastando numa colina próxima. Os demônios imploraram a Jesus: “Manda-nos para os porcos, para que entremos neles”. Ele lhes deu permissão, e os espíritos imundos saíram e entraram nos porcos. A manada de cerca de dois mil porcos atirou-se precipício abaixo, em direção ao mar, e nele se afogou. Os que cuidavam dos porcos fugiram e contaram esses fatos na cidade e nos campos, e o povo foi ver o que havia acontecido. Quando se aproximaram de Jesus, viram ali o homem que fora possesso da legião de demônios, assentado, vestido e em perfeito juízo; e ficaram com medo.
(Mc 5.1-15)
Este é, de todos os Evangelhos, o texto mais explícito a respeito de uma possessão maligna. Entretanto, muito mais do que isto, nos ensina importantes lições.
A primeira delas é a facilidade com que o nosso amado Jesus, mesmo sendo judeu, transita por terrenos espiritualmente contaminados, para resgatar uma alma agonizante que fora feita prisioneira por milhares de demônios.
Um israelita não deveria se descuidar com a questão de tocar em coisas ou pessoas imundas, para não se contaminar, segundo a lei, e ficar impossibilitado de uma comunhão mais íntima com Jeová. Jesus, entende que, muito mais importante do que tomar a atitude correta de se afastar de um local potencialmente imundo, as proximidades de um cemitério, existe uma força descomunalmente maior em Seu ser que é praticar o “Bem”.
Ele, então, vai em resgate de um jovem homem que, possuído por espíritos imundos, vive nú, gritando e ferindo-se, completamente fora de sua razão, em meio aos sepulcros. A sociedade, como não tem uma solução libertadora para o homem atormentado lhe aplica um “remédio” atenuador, lhe acorrenta os pés e as mãos.
Infelizmente a casta maligna nele alojada desfaz seus grilhões ferindo-o ainda mais. Porém, ao perceberem a presença do Filho do Altíssimo os demônios caem de joelhos reconhecendo sua derrota.
Outra vez o Mestre de Nazaré transita pela dimensão espiritual maligna sem se contaminar e liberta o moribundo endemoniado. Jesus está (aparentemente) dentro de um cemitério, rodeado de defuntos imundos, diante de milhares de espíritos imundos e para completar, segundo o texto, está rodeado de milhares de porcos, o animal mais imundo para os judeus. Estes, agora possuídos pelos demônios que saíram do rapaz se precipitam do abismo e morrem. Uma clara lição que, para o diabo, seres humanos feitos a imagem e semelhança de Deus e porcos estão no mesmo nível de consideração.
Olhando de fora deste episódio, percebemos como Nosso Senhor é capaz de ir mergulhando cada vez mais para nos resgatar no fundo do poço. Quando parece não haver mais esperança, e nos encontramos em uma posição que a “religião” não poderá nos resgatar, aparece a figura do Bom Samaritano, que com um largo sorriso nos lábios e de braços abertos nos acalanta, cura nossas feridas e nos carrega no colo.
Um Doutor da Lei, Sumo Sacerdote ou Levita jamais entrariam neste cemitério para resgatar o Gadareno. Não há limitações para o Nosso Senhor Jesus resgatar uma alma, seja onde for e com quem for.
Finalmente, após a libertação do Gadareno, que agora está sentado, feliz, vestido, consciente e conversando com o Senhor, aqueles que o haviam visto atormentado agora ficaram aterrorizados.
Ora, deveriam ter ficado aterrorizados antes, não agora! Pior ainda, quando chegam os proprietários dos porcos que se precipitaram no abismo, mandam Jesus embora de suas terras. Este é o exato quadro do mundo em que vivemos: Preferem conviver com os porcos e todas as imundícias que lhe são peculiares do que com a presença libertadora e transformadora de Jesus.
Vamos, preguemos o Evangelho em todos os valados, pois não é o lugar que nos contaminará, mas a nossa presença transformará o ambiente em que estivermos em nome de Jesus.

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