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Aprofundando-se um pouco mais na expressão “hierofania” (A palavra “hierofania” vem do grego antigo “hieros”, e significa “manifestação divina” ou “aparição sagrada”. O termo foi cunhado pelo historiador das religiões Mircea Eliade, em sua obra “Tratado de história das religiões”, e foi usado para descrever a experiência do sagrado em diferentes culturas e tradições religiosas.
Para Eliade, a hierofania é uma das características universais da religião, que permite aos indivíduos entrar em contato com o sagrado e experimentar a sensação de transcendência e significado em suas vidas. {netmundi}), manifestação do sagrado, Eliade afirma que a história de todas as religiões, desde as mais rudimentares às mais elaboradas: “é constituída por um número considerável de hierofanias, pelas manifestações das realidades sagradas. A partir da mais elementar hierofania – por exemplo, a manifestação do sagrado num objeto qualquer, uma pedra ou uma árvore. Não se trata de uma veneração da ‘pedra como pedra’ de um culto da ‘árvore’ . A pedra sagrada e a árvore sagrada não são adoradas como pedra ou como árvore, mas justamente porque são hierofanias, porque ‘revelam’ algo que já não é nem pedra, nem árvore, mas o ‘sagrado, o “ganz andere”
Dessa maneira seria impraticável a experiência do sagrado se este não se limitasse a uma realidade perceptível, sensível vivida pelo homem religioso apenas por meio do símbolo, seja este uma hierofania (elemento natural do cosmo), seja este um objeto profano.
Eliade deixa bem claro em seu pensamento que, ainda que manifestado o sagrado, qualquer objeto se torna outra coisa, porém continua a ser ele mesmo. Assim, mesmo uma pedra sagrada nunca deixaria de ser pedra em si, já que, se ela for vista com o olhar profano, nada evidenciará diferença das demais pedras. Para ser considerada sagrada uma pedra deverá cumprir o papel de mediação com o sagrado, somente assim ela trans significa; ou seja :
“a sua realidade imediata transmuda-se numa realidade sobrenatural”
Conclui-se, assim, que não é qualquer objeto ou elemento da natureza que tem a propriedade de demonstrar uma realidade sobrenatural, ele somente receberá a classificação de símbolo “hierofânico” quando possuir características que “falam” de algum aspecto do sagrado. Como diz Croatto, em outros termos :
“É a maneira de se manifestar ou a forma de um objeto e a maneira de agir de um ser vivente (uma árvore, um animal ou um ser humano) o que conduz a um outro aspecto do sagrado, manifestado justamente sobre essa dimensão”
Nesta visão a diferença existente num objeto profano ou sagrado é meramente uma questão de posicionamento com relação a este. A história apresenta o sagrado e o profano como duas modalidades de ser no mundo, como afirma Eliade: “duas situações existenciais assumidas pelo homem ao longo da sua história. Esses modos de ser no mundo não interessam unicamente à história das religiões ou à sociologia, não constituem apenas o objeto de estudos históricos, sociológicos, etnológicos. Em última instância, os modos de ser ‘sagrado e profano’ dependem das diferentes posições que o homem conquistou no Cosmo, e, consequentemente, interessam não só ao filósofo, mas também a todo investigador desejoso de conhecer as dimensões possíveis da existência humana”