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Em Hebreus 11.1 está registrado o mais profundo significado da fé:
“Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam, e a prova das coisas que não se vêem.”
Surge, então um grande questionamento:
Fé é o mesmo que “Crença”?
Definitivamente não. Crença está relacionada diretamente com a profissão daquilo que acreditamos; é o conjunto de todo o sistema doutrinário e dogmático onde está alicerçada nossa religião que se pode expressar em palavras. Por conseguinte as palavras serão insuficientes para definir a nossa declaração de fé.
A crença pode ser exposta, mas a fé é subjetiva, é um mistério, é a relação entre nós e o transcendente, entre a criatura e o Criador excelso, o conhecido e o “Desconhecido”, entre o eu e o futuro, entre o eu e a morte, entre o provável e o improvável, entre o eu e o “Outro”, entre o eu e Deus.
Antropologicamente falando, todas as classes de religiosos, no geral, estão mais preocupados com os aspectos ritualísticos da crença do que com o aspecto vivo da fé.
Jesus mesmo repreendeu os fariseus com respeito às suas crenças e ritos superficiais:
“(…)1 Então falou Jesus às multidões e aos seus discípulos, dizendo:2 Na cadeira de Moisés se assentam os escribas e fariseus. 3 Portanto, tudo o que vos disserem, isso fazei e observai; mas não façais conforme as suas obras; porque dizem e não praticam. 4 Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; mas eles mesmos nem com o dedo querem movê-los. 5 Todas as suas obras eles fazem a fim de serem vistos pelos homens; pois alargam os seus filactérios, e aumentam as franjas dos seus mantos; 6 gostam do primeiro lugar nos banquetes, das primeiras cadeiras nas sinagogas(…)” (Mt 23.1-6)
A fé é um agente que isola o indivíduo; a crença, seja ela de qualquer natureza, inclusive cristã, tem o poder de agregar os indivíduos. A crença cria em nós um sentimento de união a outros que estão na mesma vertente institucional, como que orientados na mesma direção do objeto de crença, comungando das mesmas ideias e ideais, praticando os mesmos rituais, inserido na mesma organização, seu “dialeto” (igrejismo) é o mesmo.
A fé não deve estar atrelada àquilo que acreditamos, pois nossas crenças mudam e transformam-se constantemente em nosso aperfeiçoamento espiritual. A bem da verdade a crença torna-se um obstáculo à fé.
Em João 3.2 Jesus tem um diálogo com Nicodemos e logo que se encontram o doutor da lei diz :
“ Este foi ter com Jesus, de noite, e disse-lhe: Rabi, sabemos que és Mestre, vindo de Deus; pois ninguém pode fazer estes sinais que tu fazes, se Deus não estiver com ele.”
Ou seja, quando Nicodemos diz : “sabemos que és mestre, vindo de Deus” ele estava declarando que ele e os demais religiosos nutriam a “Crença” de que Jesus era vindo de Deus. Havia crença, mas não era o suficiente para Nicodemos ser salvo, ele precisava ser gerado em uma outra dimensão que transcendia a toda a crença que fora criada em torno de Jesus. O Salvador amorosamente lhe diz (v8) “ O vento sopra onde quer, e ouves a sua voz; mas não sabes donde vem, nem para onde vai; assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” Em outras palavras Jesus estava querendo dizer a Nicodemos que Ele não tinha relação nenhuma com aquilo que “Criam” ser Ele, mas exatamente que, aqueles que se ligassem a Ele pela fé, seriam levados a uma dimensão espiritual que a crença jamais poderia levá-los.
As crenças se opõe à fé porque elas somente satisfazem a nossa necessidade de religião. Quando alguém pergunta em que acredito está procurando estabelecer uma conexão de sua própria crença à partir da minha.
A crença nos deixa confortável, pois é um conhecimento já estabelecido, um terreno já explorado. Por outro lado a fé é algo terrível, que ninguém, em seu pleno juízo, deveria buscar. A fé nos deixa de cara com um Deus que pode não estar lá. Sou constantemente convidado pela fé a um grau de liberdade que meu íntimo se nega a experimentar. Ter fé é sair da zona de conforto da crença em direção a regiões de mim mesmo e dos outros onde com certeza não tenho o desejo de ir. A fé traz a dúvida, a crença a exclui. A crença explica de forma racional aquilo em que acredito, a fé exige de forma louca que eu prove.
Sendo assim, quem em sã consciência escolheria deixar o abraço da crença comum rumo à vertiginosa fé, em direção à santificação diante de Deus?
A verdade é que todos nós sempre preferimos voltar às coisas conhecidas e confortáveis do Egito, suas cebolas, alhos, pepinos etc, não queremos o sempre constante, iminente e exigente desafio do deserto desconhecido da “FÉ”.
“Ora, sem fé é impossível agradar a Deus; porque é necessário que aquele que se aproxima de Deus creia que ele existe, e que é galardoador dos que o buscam.” (Hb 11.6)