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Em João capítulo 2.1-10 diz:
No terceiro dia houve um casamento em Caná da Galiléia. A mãe de Jesus estava ali; Jesus e seus discípulos também haviam sido convidados para o casamento. Tendo acabado o vinho, a mãe de Jesus lhe disse: “Eles não têm mais vinho”. Respondeu Jesus: “Que temos nós em comum, mulher? A minha hora ainda não chegou”. Sua mãe disse aos serviçais: “Façam tudo o que ele lhes mandar”. Ali perto havia seis potes de pedra, do tipo usado pelos judeus para as purificações cerimoniais; em cada pote cabiam entre oitenta e cento e vinte litros.
Disse Jesus aos serviçais: “Encham os potes com água”. E os encheram até a borda. Então lhes disse: “Agora, levem um pouco ao encarregado da festa”. Eles assim fizeram, e o encarregado da festa provou a água que fora transformada em vinho, sem saber de onde este viera, embora o soubessem os serviçais que haviam tirado a água. Então chamou o noivo e disse: “Todos servem primeiro o melhor vinho e, depois que os convidados já beberam bastante, o vinho inferior é servido; mas você guardou o melhor até agora”.
Uma vez mais o Senhor Jesus nos surpreende com um profundo e inusitado ensinamento.
Jesus, bem como sua mãe e discípulos, foram convidados a participar de uma festa de casamento. Inesperadamente se instalou uma crise no evento quando Maria, que ajudava nos bastidores da celebração, percebeu que o vinho acabara. Das duas uma, ou o Mestre Sala (equivalente a um Produtor de Eventos hoje) não calculou bem a quantidade necessária do vinho ou o número de convidados ultrapassou as expectativas dos noivos.
Maria convoca Jesus e lhe deixa inteirado do problema. Jesus, respeitosamente, responde que a falta de vinho não lhe dizia respeito, pois não era o casamento Dele, e que ainda não era o momento de se revelar. Sua mãe, então, recomenda que os garçons fiquem atentos em Jesus e que obedeçam todas as Suas ordens.
O Mestre, então, determina que se remova as seis Talhas de Purificação que ficavam na entrada da casa. Estas Talhas não eram determinações da Lei, mas sim fruto das Tradições Judaicas relativas às purificações. Elas demonstravam a que ponto estava adoecida a religião que foi criada à partir da Lei.
Os judeus colocavam estas Talhas nas portas de casa e todas as vezes que entravam ou saiam, se lavavam, acreditando que este simples e repetitivo ato os purificava dos pecados. Algumas talhas eram tão grandes que um homem poderia entrar nelas e literalmente tomar um banho, lavando todas as partes do seu corpo, todas mesmo.
As Talhas do texto acima eram seis e continham de duas a três metretas, ou seja, caberiam tranquilamente 120 litros de águas purificadoras, como visto, um homem poderia banhar-se nelas.
Estas Talhas representam o sentimento de culpa que faz parte da vida do homem religioso. Imagine alguém que tenha que sair de casa diariamente cinco a dez vezes, passar por todo o processo de purificação para amenizar a culpa de estar contaminado. Ou ainda, por quantas vezes saiu de casa atrasado e se esqueceu de se “purificar” e, por conta da culpa, ter que voltar e passar por todo o processo, todos os dias, várias vezes, todas as semanas, por anos e a vida toda. Pior, uma rotina que nunca satisfazia as necessidades do ser, pois quanto mais se lavavam mais impuros se sentiam.
Não conhecemos o nível da vida espiritual dos noivos, mas penso que algo não ia bem, afinal não havia uma Talha à porta como determinava a Tradição, mas “seis”. Quanta “culpa’ acumulada, quanto sentimento de contaminação alojado no ser.
O que fascina na leitura do Evangelho é que Jesus veio para desconstruir todo o pensamento humano de auto justificação. A ordem do Cristo aos garçons foi: “Tirem as Talhas da porta e enchei-as até a boca”. Veja que as Talhas já estavam vazias, e é assim que a religião sempre se apresenta, vazia, sem sentido, sem substância ou essência. Agora elas são tiradas do lugar e lhes é dada uma Nova função: “Contenedoras de Águas Transformadas em Vinho Novo”.
Por que Jesus não reutilizou as vasilhas vazias do vinho que havia acabado? Não sei! Por que Jesus utilizou um recipiente com restos de águas sujas para fazer o milagre? Bem, o certo é que vejo uma fila de convidados diante da casa dos noivos que não podem entrar, pois não tem como se purificar para a entrada. Por outro lado vislumbro dentro da casa uma atmosfera maravilhosa de pessoas experimentando o Novo, com um semblante transformado e vivendo sensações nunca antes sentidas, vividas ou vistas. Vejo os noivos alegres e radiantes convidando os que estão do lado de fora da casa a entrar e estes respondendo que não podem, pois não tem Talhas para se purificarem.
Quantos em nossas igrejas não conseguem mais aproveitar as delícias do Evangelho de Jesus, simplesmente porque não largam suas “Talhas”. Outros deixam de saborear o Novo de Cristo porque são escravos de uma vida rotineira de “Talhas” de costumes, vestimentas, acessórios, cortes de cabelo, etc. Tudo isso são meros e ilusórios detalhes exteriores que não renovam e nem transformam nosso interior. Só os alcançados pelo Vinho Novo da transformação compreenderam que é muito melhor viverem suas vidas como uma constante festa do que, em nome de uma Tradição, amargar uma existência sem sentido, vazia e morta. Jesus é Aquele que transforma, de maneira “louca”, nossos conceitos e pré conceitos em “Vinho Novo”.
Saia da porta hoje, entre na festa, experimente o “Novo do Senhor” e entenderás porque Jesus deixou o melhor para o final.
Tim, Tim, Saúde!