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Em João capítulo 18.10 se diz: “ – Então Simão Pedro, que tinha espada, desembainhou-a, e feriu o servo do sumo sacerdote, cortando-lhe a orelha direita. E o nome do servo era Malco.”
Era noite, Jesus e os discípulos haviam acabado de participar da última ceia juntos. O Mestre já havia predito que os próximos momentos seriam amargos e, então, os convida a irem ao jardim do Getsêmani para orarem juntos.
Ao chegarem às portas do lugar Jesus escolhe Pedro, Tiago e João para acompanha-lo até o interior do jardim, os demais deveriam aguardar na entrada. A lição que aprendemos é que o Senhor tem seguidores, mas também tem amigos íntimos que espera contar nos momentos de maior angústia. Cabe aqui uma breve reflexão; “ Somos meros seguidores ou temos nos aprofundado na intimidade com o Pai?”. Somos íntimos que conhecemos as profundezas de Deus ou meros seguidores que se contentam em estar ás portas de Suas revelações?
Jesus se ajoelha um pouco mais adiante e agoniza seus últimos momentos nesta terra, sentindo o pecado de todos nós sobre seus ombros. Começa a suar grandes gotas de sangue, tamanha é sua aflição. Aquele que curou a mulher hemorrágica não pode conter a sua própria. E não é isso mesmo o que acontece em nossa jornada espiritual? Em muitas ocasiões não podemos fazer por nós o que fizemos pelos outros.
Procura por seus intercessores e se decepciona. Alheios ao sofrimento do Salvador mergulham no profundo sono do egoísmo.
O Cristo abraça, então, o amargo cálice da cruz e decide deixar o jardim.
Deparam-se com uma turba de soldados e religiosos que, com tochas, espadas e porretes, estão prontos a prendê-lo.
Os detalhes da Bíblia nos surpreende, está registrado que os algozes portavam espadas, claro, a guarda romana, pois fazia parte de seu aparato militar. Entretanto outros estavam munidos de “porretes de madeira”, sim, e estes eram os representantes da religião judaica, alguns guardas do templo ou até mesmo doutores da lei e sacerdotes.
Trazendo para os nossos dias vejo que a mesma história se repete todos os dias. Infelizmente muitos religiosos, ditos evangélicos, não fazem mais uso da palavra conciliatória, aconselhamento fundamentado no amor ou uma demonstração de carinho e paciência com aqueles que ainda não absorveram as Verdade do Evangelho, não senhores, é muito mais prático e eficaz o “porrete de madeira”, pois é mais fácil matar ou aleijar de vez do que perder tempo com um rebelde, com alguém que não se alinha com as perversidades instaladas nos templos.
Pedro, quando percebe o perigo, puxa da espada e tenta cortar a cabeça do aprendiz a sacerdote chamado Malco.
Jesus conseguiu tirar o barco de Pedro, convenceu Pedro a deixar a profissão de pescador, tirou as redes de Pedro, mas infelizmente não pôde tirar a espada de Pedro. É porque espada fala de virtudes. Algumas coisas o Senhor não vai “tirar” de nós, mas nós devemos nos “desfazer” delas. Devemos nos lembrar que Pedro havia acabado de vir da “ceia” e de uma noite de “vigília” com o Senhor, entretanto isto não foi suficiente para impedi-lo de cometer tão horrenda atitude.
Malco percebendo a fúria de Pedro consegue se esquivar e afastar sua cabeça da trajetória da espada, porém está ainda lhe decepou a orelha direita.
Sendo Malco um auxiliar do Sumo sacerdote, já deveria estar no final do estágio para tornar-se um sacerdote, pois já havia recebido uma incumbência de responsabilidade de seu superior, prender a Jesus. Geralmente um vocacionado ao sacerdócio passava de cinco a oito anos se preparando no templo.
Para alguém ser consagrado ao sacerdócio não poderia ter nenhum defeito físico, como determinado em Levítico 21:17 – “Fala a Arão, dizendo: Ninguém da tua descendência, nas suas gerações, em que houver algum defeito, se chegará a oferecer o pão do seu Deus.
Levítico 21:21 – Nenhum homem da descendência de Arão, o sacerdote, em quem houver alguma deformidade, se chegará para oferecer as ofertas queimadas do SENHOR; defeito nele há; não se chegará para oferecer o pão do seu Deus.”
Outro detalhe interessante é que no cerimonial de consagração do sacerdote o candidato seria ungido com sangue na ponta da “orelha Direita”, polegar da mão “direita” e dedão do pé “direito”;
Levítico 14:14 –“ E o sacerdote tomará do sangue da expiação da culpa, e o porá sobre a ponta da orelha direita daquele que tem de purificar-se e sobre o dedo polegar da sua mão direita, e no dedo polegar do seu pé direito.”
Sendo assim, todo o investimento de tanto tempo que Malco fizera havia sido frustrado. Uma rica lição que tiramos ainda neste episódio é que na nossa caminhada espiritual sempre vamos conviver com os “Pedros” que tomam a ceia, oram, falam em línguas, se dizem crentes fiéis, são contados como amigos íntimos do Senhor, mas nunca pensam duas vezes para puxar sua espada e acabar com o sonho e o ministério daqueles que se colocarem á sua frente.
Todavia nos alegra saber que em todo o jardim do Getsêmani, onde existe um Pedro carnal, odioso e descontrolado, também estará lá um Jesus restaurador de sonhos e propósitos.
Quando Malco olha sua orelha direita caída no chão empoeirado do Jardim deve ter preferido morrer a ver seu sonho sacerdotal acabar. Entretanto o Mestre se abaixa; vejo-o espanando a poeira da orelha cortada e quem sabe dizendo; “- Aqui está Malco, no antigo testamento, na consagração, aquele sangue que era passado na ponta da orelha direita do candidato a sacerdote representava o Meu Sangue”, mas eis aqui que EU MESMO te consagro a sacerdote. Se você pensou que os teus sonhos estavam frustrados eu mesmo deixo a minha marca em ti. Estou ressuscitando teus sonhos e teus projetos, aquilo que parecia impossível Eu torno possível.”
Amado irmão, se por ventura algo ou alguém quer impedir as promessas do Senhor em tua vida creia que o Mestre de Nazaré, Jesus Cristo, quer restaurá-lo agora.
Onde foi que você perdeu sua orelha?