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Em Mateus 21.19 se diz:
“Avistando uma figueira à beira da estrada, aproximou-se dela, porém nada encontrou, a não ser folhas. Então decretou-lhe: “Nunca mais se produza fruto em ti!” E, no mesmo instante, a figueira ficou completamente seca” (KJA) (Grifo meu)
Marcos 11.11,14:
“E Jesus entrou em Jerusalém, no templo, e, tendo visto tudo em redor, como fosse já tarde, saiu para Betânia com os doze. E, no dia seguinte, quando saíram de Betânia, teve fome. E, avistando ao longe uma figueira com folhas, foi verificar se encontraria nela algum fruto. Chegando perto dela, nada encontrou, a não ser folhas, porque não era a época de figos. Então a repreendeu: “Nunca mais, em tempo algum, coma alguém fruto de ti!”. E os discípulos escutaram quando proferiu isso”. (KJA) (Grifo meu)
Acredito ser uma das sensações mais decepcionantes aquela em que, o cultivador, ao esperar o tempo da frutificação daquilo que plantou, perceber que, no tempo da colheita, a planta falhou, “mentiu”, enganou.
Claro que o aspecto pedagógico do episódio se relaciona à frustração do Messias ante a missão que Israel havia deixado de cumprir, expondo, assim, sua vida de aparência e não produtividade. A figueira mentirosa era também uma gritante amostra no que havia se tornado a religião da Lei Mosaica.
O próprio livro das Tradições judaicas, o Talmude, ensinava que a figueira produzia duas vezes ao ano. As folhas indicavam que deveriam haver bons frutos, uma vez que no ciclo regular os figos surgiriam logo após a folhagem.
Não quero entrar no mérito do que informa Marcos no versículo 13 que “Não era a época de figos”, mas sim na perspectiva da produção ou não dos frutos.
Estes dois textos sempre me intrigaram, pois, embora pareçam sinônimos, não são.
Tanto em Mateus como em Marcos nos é dito que ao Jesus se aproximar da figueira nada encontrou a não ser folhas. Como dito acima, o Mestre se dirigiu à árvore porque entendia que, em havendo as folhas, seria certa a presença dos frutos.
A indignação de Jesus fez com que tomasse uma atitude no mínimo estranha, amaldiçoar uma planta.
Mateus apresenta a maldição da seguinte forma:
“Nunca mais se produza fruto em ti!”, ou seja, à partir daquele exato momento aquela figueira passou a perder a função à qual veio à existência, produzir frutos.
Não sabemos as circunstâncias pelas quais estava passando o arbusto por não estar produzindo nada. Nem se em anos anteriores ela produzia ou que tipo de frutos gerava. Porém, se tornara estéril desde então.
Quando observamos tantos irmãos amados que outrora estavam à frente da Obra do Senhor e hoje vivem no ostracismo, não conseguem mais se envolver na causa do Mestre. Alguns até frequentam aos cultos ou reuniões regulares de sua comunidade, mas tornaram-se áridos, improdutivos, caíram na mediocridade.
Outros, ainda que emplumando suas “folhagens” da hipocrisia, vivem a duplicidade de vida, um dia estão na igreja e em outro mergulhados na, mentira, obscenidade, corrupção, pederastia, prostituição e adultério. Sobre os tais paira a maldição, não de Jesus, mas do pecado do qual se tornaram escravos:
“Não sabem que, quando vocês se oferecem a alguém para lhe obedecer como escravos, tornam-se escravos daquele a quem obedecem: escravos do pecado que leva à morte, ou da obediência que leva à justiça?” (Rm 6:16)
A figueira improdutiva para nada mais presta a não ser cortá-la e lançá-la ao fogo.
O outro aspecto deste mesmo episódio é o apresentado por Marcos quando ele diz:
“Nunca mais, em tempo algum, coma alguém fruto de ti!“
A maldição aqui tem um outro sentido.
Enquanto em Mateus Jesus diz que “Nunca mais a figueira produziria”, Marcos relata que (é o que se entende), embora ela viesse a produzir frutos, nunca mais estes serviriam de alimento para alguém.
Perceba a gravidade das Palavras de Jesus.
Fico imaginando todos nós que, diante de tantas dificuldades, temos o prazer de, em Graça, produzir alguns frutos para o Reino de Deus e a satisfação que isto nos proporciona. Seja um sermão que convence um pecador, um artigo que alegra o coração e amplie o entendimento de um amado leitor, uma aula transformadora da Escola Bíblica Dominical, ministrando como Missionário, um louvor tocado ou solado por um querido irmão, etc.
Já pensou se, por algum ato de negligência, irresponsabilidade ou desvio, nos colocarmos debaixo de maldição, e formos tolhidos de cooperar nesta grande Obra da Salvação?
Embora continuemos com as mesmas capacidades, talentos, retóricas, musicalidade, dons, etc, tudo isso para nada servirá, pois não redundará em edificação de mais ninguém, pois nossa insensatez nos colocou em um vácuo existencial, teremos frutos sim, mas não haverá quem deles se alimente. Entendo que possuir frutos e não serem úteis é muito pior do que não tê-los.
Louvamos ao Senhor Jesus que a chamada à qual fomos vocacionados é para a frutificação:
“Eu sou a videira, vós as varas; quem está em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer. Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós, e vos nomeei, para que vades e deis fruto, e o vosso fruto permaneça; a fim de que tudo quanto em meu nome pedirdes ao Pai ele vo-lo conceda.” (Jo 15. 5,16)
Assim como Jesus se dirigiu à figueira porque estava com fome, assim também o mundo está desesperado por algo que alimente sua alma:
“Eis que vêm dias, diz o Senhor DEUS, em que enviarei fome sobre a terra; não fome de pão, nem sede de água, mas de ouvir as palavras do SENHOR. E irão errantes de um mar até outro mar, e do norte até ao oriente; correrão por toda a parte, buscando a palavra do Senhor, mas não a acharão.” (Am 8:11,12)
Vivamos dignamente nossas vidas como “figueiras santas”, plantadas no jardim de Deus, que saciarão aqueles que estão famintos e sedentos em conhecer a Palavra de Deus.
“Que haja constantemente frutos em ti!”
“Que todos venham sempre se alimentar em ti!”
Que o Senhor nos abençoe.