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Gênesis 3.6 nos diz:
“E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer, e agradável aos olhos, e árvore desejável para dar entendimento; tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.” (ACF) (Grifo meu)
תֵּ֣רֶא הָֽאִשָּׁ֡ה כִּ֣י טֹוב֩ הָעֵ֨ץ לְמַאֲכָ֜ל וְכִ֧י תַֽאֲוָה־ה֣וּא לָעֵינַ֗יִם וְנֶחְמָ֤ד הָעֵץ֙ לְהַשְׂכִּ֔יל וַתִּקַּ֥ח מִפִּרְיֹ֖ו וַתֹּאכַ֑ל וַתִּתֵּ֧ן גַּם־לְאִישָׁ֛הּ עִמָּ֖הּ וַיֹּאכַֽל (Old Testament Leningrad Codex) (Grifo meu)
“Vidit igitur mulier quod bonum esset lignum ad vescendum, et pulchrum oculis, aspectuque delectabile : et tulit de fructu illius, et comedit : deditque viro suo, qui comedit.” (Vulgata Latina) (Grifo meu)
O episódio mais trágico da história da humanidade, foi, sem dúvida, a desobediência de nossos primeiros pais no Jardim do Éden, ao tomarem e comerem daquilo que lhes fora proibido. Á partir deste instante toda a sorte de maldade, malignidade e morte passaram a assolar e dominar aqueles que foram projetados para nunca perecerem. O pecado tem esta particularidade de nos afastar de nosso Criador e jogar-nos no vale dos desesperançosos. Todavia, através da obediência do Último Adão, Cristo Jesus, o Pai nos franqueou o acesso de retorno a esta comunhão outrora rompida.
Mas afinal, que fruto era este?
Entre os mais conceituados estudiosos Rabinos judeus existem algumas teorias com relação a: “Qual seria o tipo de fruto que atraiu e “seduziu” o casal no Jardim do Éden?”
É bom dizer que a interpretação válida é a judaica, dado ao fato de que o Antigo Testamento, originalmente, foi escrito na língua hebraica. Contudo, existe uma tendência (diga-se de passagem que tornou-se quase que oficializada) de se interpretar o fruto comido por Eva e Adão como sendo a Maça. Isto porque ao se traduzir o texto “(…) tomou do seu fruto, e comeu, e deu também a seu marido, e ele comeu com ela.(…)” para o Latim (Vulgata Latina) temos: “et tulit de fructu illius, et comedit : deditque viro suo, qui comedit.” associou-se, então o “fructu” ao “pomum = maçã”, a fruta mais conhecida e apreciada no ocidente, notadamente na Europa, onde se estabeleceu a Igreja à partir do século IV d.C. Saiba-se que a Maça nem sequer é considerada como possibilidade de ser fruto proibido pelos judeus.
Voltemos à visão judaica. Existem pelo menos cinco suposições (hipóteses) ou interpretações que os estudiosos de Israel fazem com relação ao fruto do pecado.
Os judeus, que são conhecidos como o Povo do Livro, entendem que a Torah (Cinco Primeiros livros do AT) não dizem qual era o fruto proibido, mas que era “o fruto da árvore “הָעֵץ֮” (Há’ez)”. Um grupo defende a ideia de que, se Deus não deixou revelado qual era o tipo de fruto, é porque Ele não queria que soubéssemos, por outro lado, tem outros pesquisadores que dizem que querem sim saber, e que existem pistas de qual fruto era este no texto.
1. A primeira possibilidade defendida pelos rabinos seria o Trigo. Bem, alguém dirá, trigo não nasce em árvore. Correto, porém a atribuição do fruto proibido a este cereal tem uma relevância mais metafórica (simbólica), pois está associado com o conhecimento no pensamento da Torah. Originalmente, segundo eles, o trigo nascia em uma árvore, porém, após a consumação do pecado, o cereal teria se tornado uma planta rasteira, ou seja, foi rebaixado.
“Na Torá, o trigo é considerado o esteio da dieta humana, ao passo que a cevada é mencionada como um alimento tipicamente animal (cf. Tehilim 104:5 e I Melachim, 5:8. Veja também o Talmud, Sotah 14a). Assim, o “trigo” representa o esforço para nutrir o que há de distintamente humano em nós, alimentar as Divinas aspirações que são a essência de nossa humanidade.” (pt.Chabad)
2. O fruto poderia ser o “Etrog”; segundo o Instituto Morashá de pesquisa : “De acordo com nossos sábios, o fruto da árvore descrita no texto em hebraico como sendo a do hadar, a árvore formosa, é o etrog, uma espécie de fruta cítrica doce e aromática. É uma fruta especial, pois a árvore na qual brota tem o mesmo sabor que seu fruto. Por ser uma fruta que se reproduz o ano inteiro, simboliza também a fertilidade. Cheiroso e fértil, o etrog representa o judeu completo, que conhece a Torá e cumpre as mitzvot. O Midrash diz que assim como este fruto tem gosto e fragrância, assim existem no seio de Israel homens que são ao mesmo tempo instruídos e devotos.”
No texto de referência Gn 3.6a é dito que: “E viu a mulher que aquela árvore era boa para se comer,”, e o Instituto Morashá diz que: “É uma fruta especial, pois a árvore na qual brota tem o mesmo sabor que seu fruto”. É bem interessante, porque a casca da árvore do Etrog também é comestível e tem o mesmo sabor da fruta, ou seja seu sabor é cítrico (azedo) como a fruta. Não teriam Adão e Eva comido da árvore (cascas) e também do fruto desta cidra? Não sabemos.
3. A Uva seria a outra candidata a fruto proibido. Não somente pelo fruto em si, mas pelo produto da uva, ou seja, o vinho. Temos vários exemplos bíblicos dos prazeres e das tragédias que o mal uso desta bebida pode causar.
“Não olhes para o vinho quando se mostra vermelho, quando resplandece no copo e se escoa suavemente. No seu fim morderá como a cobra, e como o basilisco picará.” (Pv 23.31-32)
“O vinho é zombador e a bebida fermentada provoca brigas; não é sábio deixar-se dominar por eles.” (Pv 20:1)
“Não se embriaguem com vinho, que leva à libertinagem, mas deixem-se encher pelo Espírito,” (Ef 5:18)
4. A Nogueira (árvore da Noz) seria também uma possibilidade ao fruto proibido.
Segundo o Rabino Amram Gaon (famoso Presidente da Academia Talmúdica de Sura no sec. IX) este seria o fruto cobiçado por Eva.
“O rabino Amram Gaon identifica o fruto proibido como uma noz e o menciona em uma das bênçãos recitadas durante a cerimônia de casamento em seu sidur (Sidur (do hebraico סידור , no plural sidurim) significa ordem; relaciona-se à palavra sêder que é ampla e cujo significado é ordem, fluxo; o fluxo ordenado das orações judaicas, é o nome, decorrente da sua natureza, dado ao livro de orações utilizado pelos judeus, contendo o conjunto de orações e bençãos diárias.) . (Culture.dicolife)
5. A última provável fruta seria o Figo.
Assim diz Paulo Rosembaum:
“A Torah pode ser compreendida em 4 níveis:
• Peshat – Literalmente aquilo que está escrito no texto.
• Rémez – Aquilo que pode ser entendido ligando um texto a outro.
• Drash – A hermenêutica judaica, alusões ao significado do texto.
• Sod – A parte oculta do texto, dantes ensinadas em segredo, hoje conhecida
como Cabalá.
Peshat – o fruto proibido era um FIGO: o versículo diz que “perceberam que estavam nus e confeccionaram cinturões a partir de folhas de figueira”. Como estavam sob uma figueira, de acordo ao texto explícito, o fruto proibido era o figo.” (oqueejudaismo)
Este fruto tem um papel bem interessante na história de Adão e Eva. Após terem comido o Figo e descobrirem que estavam nus, então, desesperadamente, providenciaram uma “solução”, confeccionaram uma roupa feita com folhas da mesma árvore, a figueira: “Então foram abertos os olhos de ambos, e conheceram que estavam nus; e coseram folhas de figueira, e fizeram para si aventais”. (Gn 3:7) (Grifo meu)
Segundo Yanke Tauber:“O figo, a quarta das “Sete Espécies,” é também o fruto da “Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal” – o fruto que Adão e Eva provaram, cometendo assim o primeiro pecado da história. Como explica o ensinamento chassídico, “conhecimento” (daat) implica um envolvimento íntimo com a coisa conhecida (como no versículo “E Adão conheceu sua mulher”). O pecado de Adão derivou de sua recusa em reconciliar-se com a noção de que há certas coisas das quais ele deveria se distanciar; ele desejava conhecer intimamente cada canto do mundo de D’us, tornar-se envolvido com cada uma das criações de D’us. Mesmo o mal, mesmo aquilo que D’us tinha declarado fora do alcance dele.” (pt.Chabad)
Os estudiosos tem uma aplicação bem interessante para defender esta teoria:
“Aquilo que foi o motivo da queda e desonra também será o motivo da sua restauração; aquilo que te derrubou será o instrumento que irá te levantar.”
Gênesis vai nos informar que a “solução” que o casal produziu para tentar consertar o grande estrago causado não foi suficiente para ocultar o terrível desastre que iniciaram. Tudo o que tentarmos fazer para alcançarmos nossa salvação não passarão de “aventais de folhas de figueira”.
Jeová, então, sacrifica um animal inocente e de sua pele faz vestimentas para ambos: “E fez o Senhor Deus a Adão e à sua mulher túnicas de peles, e os vestiu” (Gn 3:21), como que profetizando que as transgressões da humanidade só poderiam ser perdoadas pelo sangue de um Inocente que morreria em seu lugar. Isto se cumpriu em Jesus, o Cordeiro Imaculado de Deus que morreu para a remissão definitiva de todos os nossos pecados.
Sendo assim, o que menos importa neste episódio é saber qual foi o tal fruto desejado e comido. Poderia ter sido uma enorme jaca ou um minúsculo mirtilo, certo é que Eva e Adão não deveriam ter pago para ver. Hoje não existe mais a proibição de se comer nenhum fruto e nenhuma árvore a se evitar, entretanto o alerta é para nos afastarmos das obras infrutuosas das trevas e buscarmos produzir os bons Frutos do Espírito.
Que o Senhor nos tire o apetite daquilo que Lhe desagrada.