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João 1.19-27 nos diz:
“E este é o testemunho de João, quando os judeus mandaram de Jerusalém sacerdotes e levitas para que lhe perguntassem: Quem és tu? E confessou, e não negou; confessou: Eu não sou o Cristo. E perguntaram-lhe: Então quê? És tu Elias? E disse: Não sou. És tu profeta? E respondeu: Não. Disseram-lhe pois: Quem és? para que demos resposta àqueles que nos enviaram; que dizes de ti mesmo? Disse: Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías. E os que tinham sido enviados eram dos fariseus. E perguntaram-lhe, e disseram-lhe: Por que batizas, pois, se tu não és o Cristo, nem Elias, nem o profeta? João respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com água; mas no meio de vós está um a quem vós não conheceis. Este é aquele que vem após mim, que é antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar a correia da alparca.”
Qualquer cristão hoje se sentiria profundamente ofendido se fosse chamado de Fariseu. Pois este termo é oriundo de uma seita religiosa judaica que, nos tempos do ministério de Jesus, se consideravam os guardiões das verdades e das tradições, bem como o exemplo de pureza e piedade da Sagrada Lei Mosaica. Entretanto, se mostraram os maiores opositores e inimigos de Cristo.
Porém os Fariseus nem sempre tiveram esta fama.
Fariseu é uma palavra de origem hebraica (פרושים = P’rushim) e significa “separados”. Deram origem a uma seita judaica dos Shassidin (piedosos), que tinham por missão a manutenção ao zelo pelas Escrituras e as tradições orais.
Jesus também era um zeloso pela causa do Senhor:
“E tendo feito um azorrague de cordéis, lançou todos fora do templo, também os bois e ovelhas; e espalhou o dinheiro dos cambiadores, e derribou as mesas; (…) E os seus discípulos lembraram-se do que está escrito: O zelo da tua casa me devorou.” (Jo 2.15 e 17) (Grifo meu)
Graças a eles o estudo e expectativas nas profecias concernentes à vinda do Messias não se perderam, principalmente no espaço de tempo entre a morte do último profeta, Zacarias, e a famosa revolta dos Macabeus em 167 a.C.
É importante ressaltar que nem todos os fariseus eram hipócritas, ou legalistas cegos. A Bíblia registra a conversão de muitos deles que, amorosamente, creram e aceitaram os ensinamentos do Messias, como o Nicodemos por exemplo.
Os Shassidin foram os grandes responsáveis pelo desenvolvimento do judaísmo rabínico e posteriormente pelo judaísmo messiânico, que era o judaísmo adotado pelos seguidores de Yeshua. Entre os fariseus e os escribas, pelo fato de seus membros dedicarem muito tempo ao estudo constante da Torah e aplicarem um padrão pedagógico avançado no ensino das Escrituras Sagradas, passaram a ser conhecidos por doutores da Lei.
Quem cumpria o sagrado ofício pioneiro de copistas da Torah eram os escribas, cabendo aos fariseus a responsabilidade de decodificar e fazer a interpretação dela. O cuidado dos fariseus em terem um lugar específico para o ensino da Lei ao povo, em substituição ao Templo que fora destruído, fez com que suas reuniões se dessem em casas privadas, o que pavimentou a ideia daquele lugar que mais tarde seria conhecido como Beit Knesset (Casa da Reunião), Shul (Casa de Estudos) e ainda Beit Tefilah (Casa de Oração).
Jesus usou este mesmo termo empregado pelos fariseus para se referir ao local de culto:
“E disse-lhes: Está escrito: A minha casa será chamada casa de oração; mas vós a tendes convertido em covil de ladrões.” (Mt 21.13) (Grifo meu)
O maior feito, porém, dos fariseus, foi sua intrépida e corajosa intervenção no período do domínio grego, notadamente no governo dos Selêucidas (Registrado no livro apócrifo de I Macabeus), quando Antíoco Epifânio decretou o fim da religião judaica, dando ordens para que se profanasse o templo de Jerusalém, inserindo uma estátua de Zeus em seu interior, a queima dos exemplares da Lei, perseguição aos judeus que não assimilaram o helenismo e por fim o sacrifício de um porco no altar. Daí se iniciou a revolta dos Macabeus.
Os fariseus criam que:
• Independentemente se estivesse em casa, no campo ou em qualquer outro lugar, que não o Templo, era possível entrar em contato com Deus, sem a intermediação de um Sacerdote ou Profeta. Jesus também ensinava esta doutrina:
“Também vos digo que, se dois de vós concordarem na terra acerca de qualquer coisa que pedirem, isso lhes será feito por meu Pai, que está nos céus.
Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estou eu no meio deles.” (Mt 18:19,20) (Grifo meu)
• Anjos existiam. Jesus também ensinava sobre a veracidade da existência angelical:
“Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?” (Mt 26:53)
• Existia a ressurreição. Jesus afirmou isto em várias ocasiões:
“Disse-lhe Jesus: “Eu sou a ressurreição e a vida. Aquele que crê em mim, ainda que morra, viverá; (Jo 11:25)
“Não fiquem admirados com isto, pois está chegando a hora em que todos os que estiverem nos túmulos ouvirão a sua voz e sairão; os que fizeram o bem ressuscitarão para a vida, e os que fizeram o mal ressuscitarão para serem condenados.” (Jo 5:28-29)
• Todo fariseu iniciava a oração dizendo: אבינו שבשמיים
“AVINU SHEBA’SHAMAYIM“(Traduzindo do Hebraico: “Pai nosso que estás nos Céus”. Exatamente como Jesus nos ensinou a orar:
“Portanto, vós orareis assim: Pai nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome” (Mt 6:9)
• Os milagres existiam. Jesus também confirmou os milagres e disse que aqueles que nEle cressem fariam obras maiores do que as que Ele fez:
“Digo-lhes a verdade: Aquele que crê em mim fará também as obras que tenho realizado. Fará coisas ainda maiores do que estas, porque eu estou indo para o Pai.” (Jo 14:12)
“E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; Pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão.” (Mc 16:17,18)
Não bastassem todas estas “coincidências”, existiam nos dias do ministério de Jesus duas escolas de interpretação da Lei de Moisés, a escola dos discípulos do rígido e impaciente Rabi Shamai e a dos alunos do grande Rabi e fariseu Hilel que era um poço de paciência, bondade e de uma visão mais moderada.
Todos os alunos que se submetiam a uma destas duas escolas de interpretação eram os Talmidim (alunos ou discípulos) que estavam “debaixo do jugo” de um destes mestres.
Então, estar “debaixo do jugo” significava ser um cumpridor e defensor de uma das visões de interpretação de um destes sábios rabinos.
Somente um rabino, um mestre fariseu, poderia ter uma escola e ter discípulos, como Jesus também tinha.
Jesus, certa vez, assediado por fariseus alunos destas duas escolas se declara como um rabi (mestre) com uma nova perspectiva da Lei, só que sua hermenêutica não era opressiva e pesada como as que eles conheciam, mas o seu novo ensino, o evangelho (JUGO) era suave e seu fardo leve:
“Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração; e encontrareis descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve.” (Mt 11:28-30)
Mais algumas provas de que Jesus era um Rabi Fariseu:
• Ele era frequentador das sinagogas e ensinava e pregava aos sábados; em Lc 4.16-31 está registrado que Ele fez uma leitura da Lei em público. Só um fariseu poderia fazer isto. Se Ele não fosse jamais permitiriam seu ingresso ao local para ler o trecho do profeta.
• Jesus acreditava em tudo o que os fariseus acreditavam, a diferença é que os ensinamentos do Cristo eram superiores daqueles ensinados pelos outros fariseus.
• Jesus não era “contra os fariseus”, mas contra a hipocrisia de alguns deles:
“Todas as coisas, pois, que vos disserem que observeis, observai-as e fazei-as; mas não procedais em conformidade com as suas obras, porque dizem e não fazem; Pois atam fardos pesados e difíceis de suportar, e os põem aos ombros dos homens; eles, porém, nem com seu dedo querem movê-los; E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes, E amam os primeiros lugares nas ceias e as primeiras cadeiras nas sinagogas.” (Mt 23:3-6)
Voltando ao texto do início do artigo, os fariseus vão perguntar a João Batista se ele era o Messias que haveria de vir:
“E os que tinham sido enviados eram dos fariseus.” (Jo 1:24) (Grifo Meu)
Ao que João responde que não. Entretanto João dá uma resposta que mais uma vez confirma que Jesus era um fariseu, ele diz:
“João respondeu-lhes, dizendo: Eu batizo com água; mas no meio de vós está um a quem vós não conheceis. Este é aquele que vem após mim, que é antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar a correia da alparca.” (Jo 1:26,27) (Grifo Meu)
Com certeza alguém vai dizer: “No meio de vós judeus!”, não, por óbvio que não, pois todos eram judeus. João é enfático em responder aos fariseus que foram questioná-lo que o Messias sairia do meio do grupo dos fariseus, do meio deles, ou seja, Jesus seria um Rabi, um ensinador, um Fariseu por Excelência que eles ainda não conheciam.
Sendo assim, poderíamos apresentar muito mais argumentos para confirmar o ofício de Jesus como um Mestre Fariseu, mas o texto se estenderia muito mais do que já está.
O importante é que nosso Salvador Jesus Cristo foi e é o maior mestre que este mundo já viu e ouviu. Ele continuará falando e nos instruindo com Seu jugo suave e Seu fardo leve, e sempre trará descanso para as nossas almas.
“Responderam os servidores: Nunca homem algum falou assim como este homem”. (Jo 7:46)
Que o Jugo do Mestre esteja sobre a tua vida.