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Atendendo às várias solicitações de nossos diletos leitores do Gospel Prime, vamos ampliar ainda um pouco mais o assunto sobre a “unção”.
Levítico capítulo 8 nos diz:
“O Senhor disse a Moisés: “Traga Arão e seus filhos, suas vestes, o óleo da unção, o novilho para a oferta pelo pecado, os dois carneiros e o cesto de pães sem fermento; e reúna toda a comunidade à entrada da Tenda do Encontro”. Moisés fez como o Senhor lhe tinha ordenado, e a comunidade reuniu-se à entrada da Tenda do Encontro. Então Moisés disse à comunidade: “Foi isto que o Senhor mandou fazer”; e levou Arão e seus filhos à frente e mandou-os banhar-se com água; (…) Derramou o óleo da unção sobre a cabeça de Arão para ungi-lo e consagrá-lo. (…) A seguir mandou trazer o outro carneiro, o carneiro para a oferta de ordenação, e Arão e seus filhos colocaram as mãos sobre a cabeça do carneiro. Moisés sacrificou o carneiro e pôs um pouco do sangue na ponta da orelha direita de Arão, no polegar da sua mão direita e no polegar do seu pé direito. A seguir pegou um pouco do óleo da unção e um pouco do sangue que estava no altar e os aspergiu sobre Arão e suas vestes, bem como sobre seus filhos e suas vestes. Assim consagrou Arão e suas vestes; seus filhos e suas vestes.”
Observamos que o texto de Levítico em apreço trata especificamente sobre as três “unções” com os respectivos elementos: água, óleo e sangue, pelos quais deveriam passar o sumo sacerdote Arão e seus filhos sacerdotes.
Unção para Deus é coisa muito séria.
Não há como desconsiderar a questão da unção nas Escrituras Sagradas, pois este procedimento é evidente, entretanto, todas as vezes que esta atividade é mencionada na questão espiritual, está relacionada com a consagração ou a separação de alguém ou alguma coisa. Como é o caso de Êxodo 29.36-37:
“Também cada dia prepararás um novilho por sacrifício pelo pecado para as expiações, e purificarás o altar, fazendo expiação sobre ele; e o ungirás para santificá-lo. (37) Sete dias farás expiação pelo altar, e o santificarás; e o altar será santíssimo; tudo o que tocar o altar será santo.” (Grifo meu)
Perceba que, na perícope acima, ao se ungir os objetos eles se tornavam santos e também tinham o poder de santificar, uma vez que tudo o que tocasse neles também se tornaria santo.
Em nossas congregações temos uma infinidade de móveis e objetos que são separados para uso estrito em nossos cultos, contudo não os “ungimos” para torná-los santos ou com poder santificador.
“Não sabeis vós que sois o templo de Deus e que o Espírito de Deus habita em vós? Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá; porque o templo de Deus, que sois vós, é santo.” (I Coríntios 3.16-17)
Hoje o templo consagrado, separado e santificado onde Deus se manifesta é a vida de cada crente salvo em Jesus. Nós somos o santificado Templo do Espírito Santo do Senhor.
Ungindo as pessoas
No Antigo Testamento, como exposto em levítico 8 acima, quando o Senhor tinha um propósito específico com uma pessoa, ela era separada por meio da “unção”. O escolhido, então, poderia ser separado (Ungido) para ser Rei, Sacerdote ou Profeta.
Cabe ressaltar que, sendo Jesus “Cristo” (“Χριστός” = Cristos = Ungido na língua grega), O Unigênito “Ungido” do Pai, Ele assumia estes três ofícios, sendo Rei, Sumo Sacerdote e Profeta.
Todavia, no Novo Testamento, a separação ou consagração ministerial de pastores, presbíteros e diáconos foi substituída pela imposição de mãos e não “unção” com óleo.
“Não erreis!”
“Então, jejuando, e orando, e impondo sobre eles as mãos, os despediram.” (Atos 13.3)
Qualquer acréscimo além do que nos orienta a Palavra de Deus converge para um erro teológico. E toda a persistência nestes acréscimos equivocados é uma porta aberta para heresias e aberrações.
Acrescento que, a imposição das mãos para a consagração de obreiros na Igreja hoje, não tem o mesmo significado de outrora, uma vez que a pessoa, ao ser consagrada, não se torna “santificada”, pois este ato tem início na conversão e em um processo de purificação contínuo enquanto viver.
Ungindo os reis
Na perspectiva Bíblica os Reis eram ungidos como um pastor ou um libertador para governar Israel, como exemplificado em I Sm 9.16:
“Amanhã a estas horas te enviarei um homem da terra de Benjamim, o qual ungirás por capitão sobre o meu povo de Israel, e ele livrará o meu povo da mão dos filisteus; porque tenho olhado para o meu povo; porque o seu clamor chegou a mim.”
Ungindo os sacerdotes
Jeová orientou seu servo Moisés a ungir seu irmão Arão e seus filhos sacerdotes, a fim de consagrá-los e reconhecê-los como oficiantes escolhidos para ministrar ao Senhor por meio do sacerdócio.
Além disso, os sacerdotes tinham outros atributos, tais como: fazer a expiação, julgavam as questões do povo, ouviam as confissões de transgressões individuais, faziam o serviço de supervisão dos trabalhos no tabernáculo, ofereciam os sacrifícios de ações de graça, etc.
“E vestirás a Arão as vestes santas, e o ungirás, e o santificarás, para que me administre o sacerdócio. Também farás chegar a seus filhos, e lhes vestirás as túnicas, E os ungirás como ungiste a seu pai, para que me administrem o sacerdócio, e a sua unção lhes será por sacerdócio perpétuo nas suas gerações.” (Êxodo 40.13-15 ACF)
Ungindo os profetas
Todo profeta deveria passar pelo ato da “unção”. No Antigo Testamento, o texto de Isaias capítulo 61.1-3 é a narrativa mais abrangente sobre a unção dos “Atalaias do Senhor”:
“O espírito do Senhor DEUS está sobre mim; porque o SENHOR me ungiu, para pregar boas novas aos mansos; enviou-me a restaurar os contritos de coração, a proclamar liberdade aos cativos, e a abertura de prisão aos presos; (2) A apregoar o ano aceitável do SENHOR e o dia da vingança do nosso Deus; a consolar todos os tristes; (3) A ordenar acerca dos tristes de Sião que se lhes dê glória em vez de cinza, óleo de gozo em vez de tristeza, vestes de louvor em vez de espírito angustiado; a fim de que se chamem árvores de justiça, plantações do SENHOR, para que ele seja glorificado.”
É curioso que não haja nenhum registro bíblico, tanto no Antigo como no Novo Testamento sobre a “unção” de mulheres, seja para os ofícios de rainhas, profetizas, sacerdotisas, bispas, apóstolas ou pastoras.
Sendo assim, a unção é um sinal da graça de Deus que recebemos por fé no momento que nos entregamos aos cuidados do Senhor Jesus Cristo. A “unção” é “única” e já está em todos nós.
Não existe unção de ousadia, de conquista, de multiplicação ou seja lá o que for, isto é uma invencionice e um erro teológico disseminado por algumas igrejas neopentecostais que propagam a malfadada teologia da prosperidade, um câncer na ortodoxia bíblica.
“E vós tendes a unção do Santo, e sabeis tudo” (1 Jo 2.20)
“E a unção que vós recebestes dele, fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis” (1 Jo 2.27)
É esta graça que nos impele a termos “ousadia”, de pregar o Evangelho transformador de Cristo Jesus;
É por graça que vamos “conquistar” povos e nações ainda não alcançados pelo poder do Espírito Santo de Deus;
E é por esta mesma graça que vamos ministrar o Santo Evangelho e “multiplicar” o número de salvos que se entregarão a Cristo Jesus.
Unção é isto!
O resto não passa de falácia, erro teológico ou heresia. Que o Senhor nos guarde.